Entomologia Forense Além da Investigação Criminal
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A entomologia forense é um ramo da Biologia que pode ser definida como a aplicação do estudo de insetos e outros artrópodes, em associação com procedimentos periciais. Tem como propósito descobrir informações relevantes para uma investigação criminal. Essa ciência vem ganhando importância e, quando bem aplicada, torna-se peça importante nas investigações policiais.
A primeira aplicação da entomologia forense
O primeiro caso documentado de entomologia forense está relatado em um manual de Medicina Legal Chinês do Século XIII. Foi um caso de homicídio em que um lavrador apareceu degolado por uma foice. A fim de resolver o caso, todos os lavradores da região foram obrigados a depositar suas foices no solo, ao ar livre. As moscas pousaram em apenas uma delas, atraídas pelos restos de sangue que ainda estavam aderidos à lâmina. A conclusão foi de que aquela era a foice do assassino.
Entretanto, essa ciência veio tornar-se mundialmente conhecida após 1894, com a publicação na França do livro “La Faune des cadáveres” de Mégnin. Onde o autor inclui fundamentação teórica, descrições dos insetos e relatos de casos reais estudados por ele e colaboradores.
No entanto, no Brasil, a entomologia ganhou destaque em 1908, com os trabalhos pioneiros de Edgard Roquette Pinto e Oscar Freire. Respectivamente nos Estados do Rio de Janeiro e da Bahia. Com base em estudos de casos em humanos e animais realizados na primeira década do Século XX, esses autores registraram a diversidade da fauna de insetos necrófagos em regiões de Mata Atlântica, então ainda bastante preservadas. E chamaram a atenção por postura crítica e seu esforço em desenvolver métodos adequados às condições locais do Brasil.
Entomologia Médico-Legal
A entomologia médico-legal ou médico-forense é mais comumente conhecida como entomologia médico-criminal devido à ênfase dada à utilidade dos artrópodes na solução de crimes que frequentemente envolvem violência. Em síntese, é a ciência que trata da aplicação do estudo do comportamento de insetos e outros artrópodes associados a um cadáver humano.
Nesse sentido, por meio dessa ciência é possível determinar a data da morte (tempo entre a morte e a data que o cadáver foi encontrado) o denominado intervalo pós morte (IPM). Se o corpo foi movido para um segundo local e também se foi manipulado e possivelmente deduzir as circunstâncias que cercaram o fato antes ou depois do ocorrido.
Por exemplo, dipteros da família Calliphoridae são encontrados em centros urbanos e a sua associação a corpos encontrados na zona rural sugere que a vítima não foi morta no ponto onde foi encontrada.
A capacidade dos insetos de captarem odores que os humanos não conseguem sentir, faz com que sejam os primeiros a chegarem no local de um crime ou onde tenha um organismo morto. Contudo, os odores que são exalados pelo cadáver vão sendo modificados no decorrer da decomposição. Assim essa mudança vai se tornando mais ou menos atrativos para as espécies.
Por isso existem quatro categorias que dividem a função ecológica da fauna cadavérica e são considerados em uma investigação:
A entomofauna encontrada no cadáver pode dar algumas importantes informações sobre:
Identidade do morto
Pode ser feita com a obtenção do sangue e dos tecidos do cadáver no interior dos insetos e posterior análise de DNA para identificação.
Causa da morte
Como a velocidade da decomposição é influenciada por alguns fatores como o local onde a pessoa morreu, pode-se descobrir se ela foi morta por afogamento, carbonização, envenenamento, entre outras coisas.
Movimentação do corpo
Como a diversidade de insetos necrófagos é grande até mesmo dentro de uma mesma região, pode-se deduzir se o corpo foi movimentado.
Uso de toxinas ou drogas
As toxinas ou drogas que estiverem presentes no corpo em decomposição causam mudanças no desenvolvimento dos estágios da vida dos insetos que se alimentam da matéria orgânica. E essas substâncias também podem ser identificadas no organismo do inseto.
Cada momento da putrefação cadavérica oferece condições e características próprias. Isso significa que cada etapa atrai diferentes grupos de insetos. Desse modo eles se sucedem de maneira distinta durante os diferentes estágios da decomposição.
Além da Cena do Crime
Além disso a entomologia pode ser utilizada na investigação de outros casos de âmbito judicial, como: tráfico de entorpecentes, maus tratos e contaminação de materiais e produtos estocados.
Entomologia de Produtos Armazenados
Acontecem prioritariamente na área cível, e os insetos são normalmente o problema. Trata-se da contaminação em grande extensão de produtos comerciais estocados, como por exemplo, produtos agrícolas após a colheita e seus derivados quando armazenados. O foco do controle envolve tecnologias que visam à eliminação ou redução populacional das pragas, de modo que se permita sua utilização segura pelos consumidores.
Tráfico de Entorpecentes
É possível determinar a origem de pacotes de maconha, por exemplo, com base na identificação dos insetos que ficaram retidos no momento da prensagem e traçar a rota do tráfico através da distribuição geográfica desses insetos.
Maus Tratos
É possível precisar o número de dias, durante os quais um bebê foi privado de cuidados de higiene, baseando–se na da idade das larvas de moscas achadas nos cueiros e cama.
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Referências
- Cem anos da Entomologia Forense no Brasil (1908-2008) – José Roberto Pujol-Luz, Luciano Chaves Arantes e Reginaldo Constantino – Revista Brasileira de Entomologia 52(4): 485-492, dezembro 2008 – https://www.scielo.br/pdf/rbent/v52n4/a01v52n4.pdf
- Importância da entomologia forense nas ciências criminais – Thayse Simonetti Brittes e Paulo Roberto Queiroz da Silva – PUC Goiás – http://www.cpgls.pucgoias.edu.br/6mostra/artigos/SAUDE/THAYSE%20SIMONETTI%20BRITTES%20E%20PAULO%20ROBERTO%20QUEIROZ%20DA%20SILVA.pdf