Exame de urina de rotina: importância, coleta e métodos de análise
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O exame de urina é um dos testes mais solicitados para verificar a saúde de um paciente, considerado como um exame de rotina. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, não é utilizado apenas para detectar uma infecção urinária, mas pode conter informações importantes sobre diversos aspectos do corpo, auxiliando no diagnóstico de muitas doenças.
A urina contém diversos resíduos e toxinas, produtos que são filtrados pelo nosso organismo. Tudo o que você come, bebe, o quanto se exercita, funcionamento dos rins, qualquer descompensação, distúrbio ou doença podem afetar a sua aparência normal. Por isso é utilizada muitas vezes para confirmar ou rejeitar certas condições de saúde.
Por ser um exame muito fácil de ser realizado, indolor e que pode gerar muitos dados sobre o estado do paciente, o teste de urina é utilizado há vários séculos, sendo considerado o marco inicial da medicina laboratorial. A investigação e análise da urina para fins de diagnóstico é também chamada de Urinálise.
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Porque é realizado o exame de urina?
O exame de urina pode ser prescrito pelo médico como um exame de rotina (mesmo quando o paciente não apresenta sintomas) ou para confirmar a suspeita de alguma doença.
Os principais critérios são:
Avaliação médica de rotina: rastreio anual geral, avaliação antes da cirurgia (avaliação pré-operatória), triagem de doença renal, diabetes mellitus, hipertensão arterial (pressão alta), doença hepática etc.
Avaliação de sintomas particulares: dor abdominal, micção dolorosa, dor no flanco, febre, sangue na urina ou outros sintomas urinários.
Diagnóstico de condições médicas: infecção do trato urinário, infecção renal, cálculos renais, diabetes descontrolada, insuficiência renal, proteína na urina, rastreio de drogas e inflamação renal.
Monitoramento da progressão da doença e resposta à terapia: doença renal relacionada ao diabetes, insuficiência renal, doença renal relacionada à pressão arterial, infecção renal etc.
Métodos de análise de urina
A análise da urina envolve um conjunto de aferições que incluem suas características físicas, bioquímicas e microscópicas. Cada etapa irá avaliar uma condição diferente. Por exemplo, altas concentrações de partículas na sua urina podem indicar que você está desidratado. Níveis elevados de pH podem indicar problemas do trato urinário ou do rim. E a presença de açúcar pode indicar diabetes.
Análise Física
A urina pode ser avaliada pela aparência física (cor, turbidez, odor e volume), chamada também de análise macroscópica. A urina pode variar na cor de amarelo pálido (quase incolor) até amarelo escuro, vermelho, verde ou azul. Algumas medicações também podem alterar a sua coloração, assim como corantes naturais presentes nos alimentos, tais como cenoura e beterraba.
- Levemente amarelada: normal
- Amarelo escuro: baixa ingestão de água, também pode indicar a presença de bilirrubina (responsável pela coloração característica de problemas hepáticos).
- Esbranquiçada: piúria, pode ser um sinal de uma infecção bacteriana ou fúngica do trato urinário.
- Laranja: ingestão de alimentos ricos em betacaroteno (como cenoura), pode indicar doenças no fígado e também uso de certos medicamentos.
- Vermelha/marrom: indica a presença de sangue, hemácias, hemoglobina, mioglobina, porfirinas, excesso de bilirrubinas. Pode estar relacionada a infecção urinária, problemas renais e também no fígado.
- Verde/azul: corantes, medicamentos e contraste utilizados em exames de diagnóstico.
Análise Bioquímica
Esta etapa avalia as propriedades químicas da urina, identificando a ausência ou presença de determinadas substâncias, pH e também densidade. Os mais comumente avaliados são:
- pH: a capacidade ou incapacidade dos rins de secretar ou reabsorver ácidos ou bases. Valores altos ou baixos podem indicar cálculos renais e presença de microrganismos.
- Densidade: capacidade de concentração de substâncias sólidas diluídas na urina. Baixa, pode representar uso excessivo de líquido, até diabetes e hipertensão. Já alta densidade pode ser indicativo de desidratação, insuficiência cardíaca etc.
- Bilirrubina: característico de doenças hepáticas e biliares.
- Urobilinogênio: indica danos ao fígado e distúrbios hemolíticos.
- Corpos cetônicos (cetona): produtos da metabolização das gorduras, comum durante jejum prolongado e pacientes diabéticos.
- Glicose: detecção e monitoramento de diabetes.
- Proteína: relacionada a doenças do trato urinário e renal.
- Sangue: indica hemorragia que atinge o sistema urinário (infecção, cálculo renal etc).
- Nitrito: infecção bacteriana nos rins ou do trato urinário.
- Leucócitos (glóbulos brancos): doença do trato urinário e inflamação renal.
Análise Microscópica
O exame microscópico do sedimento urinário pode revelar a presença de células, cristais minerais e agentes patogênicos, como bactérias ou fungos.
- Leucócitos (glóbulos brancos): indica doença do trato urinário e inflamação renal.
- Hemácias (glóbulos vermelhos): infecções, pedras nos rins e doenças renais graves.
- Células epiteliais: pode estar relacionada a algum problema renal grave, como síndrome nefrótica.
- Cristais: podem indicar cálculos renais.
- Parasitas: infecção por cândida ou protozoários.
- Bactérias ou leveduras: infecção urinária.
Como é o procedimento de coleta de urina?
A coleta de urina é bem simples e pode até mesmo ser realizada em casa, desde que sejam seguidas algumas instruções. A coleta adequada é muito importante para evitar contaminação e a necessidade de realizar outro exame.
A urina deve ser coletada em frasco de material inerte, limpo, seco e à prova de vazamento. É recomendado o uso de recipientes descartáveis porque eliminam a possibilidade de contaminação
Na coleta a domicílio, o laboratório fornece as instruções para garantir que o procedimento seja realizado conforme desejado e o coletor (frasco para guardar a amostra). O paciente deve entregar a urina no laboratório no prazo máximo de 2 horas após a coleta ou então manter a amostra refrigerada.
Segundo as recomendações da SBPC/ML (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial), a primeira amostra da manhã é ideal para o exame de urina de rotina, por ser mais concentrada, garantindo assim a detecção de substâncias químicas e elementos presentes na urina. A região urogenital deve estar limpa, sendo realizada assepsia do local e o primeiro jato de urina deve ser desprezado (eliminando as impurezas que possam estar na uretra, canal urinário que traz a urina da bexiga). Coletar urina do jato médio até cerca de 1/3 ou metade da capacidade do frasco. Desprezar o restante de urina no vaso sanitário.
Não há necessidade de nenhum preparo especial do paciente para a coleta de urina para exame de rotina, mas deve-se ter em mente que algumas características se modificam ao longo do dia, dependendo do tempo de jejum, da composição da dieta, da atividade física e do uso de determinados medicamentos.
Deve-se lembrar, entretanto, que a qualidade do resultado depende diretamente da qualidade e confiabilidade da coleta da amostra.
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Referências:
Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML): Coleta e Preparo da Amostra Biológica
ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia – Texto e Atlas – Correlações com Biologia Celular e Molecular, 7ª edição, Guanabara Koogan.
Clínica Médica, Volume 3: Doenças Hematológicas, Oncologia, Doenças Renais, 2nd edição, Manole.