Vacinas: Como são Desenvolvidas e Validadas?
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A crise de saúde global enfrentada com a chegada do novo coronavírus voltou os olhares da ciência para o rápido desenvolvimento da vacina que protegerá as populações, freando assim a curva de contaminação pela Covid-19, que já matou milhares ao redor do mundo. Mas afinal, como uma vacina é feita e como podemos saber se ela é realmente eficaz?
Conceitos Prévios
Vacina é uma substância administrada a uma pessoa ou animal para protegê-la de um patógeno específico – bactéria, vírus ou outro microrganismo que pode causar doenças. A vacina estimula uma resposta imune no corpo produzindo anticorpos. Proteínas que lutam contra patógenos específicos. O objetivo da vacina é induzir o corpo a criar anticorpos específicos para um patógeno em particular. Imita a infecção em pequena escala, mas não induzindo a doença real. Um processo semelhante que ocorre quando o corpo confronta patógenos reais, mas as vacinas poupam os indivíduos dos perigos das doenças.
Uma vacina pode ser feita a partir de uma variedade de fontes: uma bactéria ou vírus morto ou enfraquecido, uma proteína ou açúcar do patógeno ou um substituto sintético. Para que uma vacina faça seu trabalho, o seguinte precisa acontecer. (1) A vacina precisa estimular a produção de anticorpos e (2) os anticorpos precisam ter avidez (atração pelo patógeno específico). Os anticorpos não funcionarão se não se ligarem ao patógeno invasor. Então a proteção da vacina também exige que o corpo reconheça o patógeno e continue produzindo anticorpos quando necessário. O que chamamos de memória imunológica. Quando isso acontece, o corpo vacinado está pronto para produzir mais desses anticorpos imediatamente, assim que o corpo for exposto à bactéria ou vírus.
Quais são os ingredientes utilizados na produção de vacinas?
A mais nova estratégia de vacina para combater doenças difíceis adota uma nova abordagem. Isto é, em vez de fornecer blocos de construção de antígenos, essas novas vacinas fornecem as instruções, ou esquemas genéticos, para a produção de antígenos patogênicos. Essa nova geração de vacinas é conhecida como “blueprint” vaccines.
Mas, além dos antígenos, é necessária uma série de outras substâncias para manter a vacina segura e eficaz. Esses ingredientes estão incluídas na maioria das vacinas e têm sido usadas por décadas em bilhões de doses. Desse modo, cada componente da vacina atende a um propósito específico e cada substância é testada no processo de fabricação quanto à segurança.
Antígeno
Todas as vacinas contêm um componente ativo (o antígeno) que gera uma resposta imune, ou o esquema para a produção do componente ativo. O antígeno pode ser uma pequena parte do organismo causador da doença, como uma proteína ou açúcar. Ou pode ser o organismo inteiro em uma forma enfraquecida ou inativa.
Conservantes
Conservantes como o fenol e o timerosal (também conhecido como etilmercúrio) evitam a contaminação da vacina por qualquer bactéria do ambiente durante e após a produção. Assim, essas substâncias são especialmente importantes na prevenção da contaminação após o frasco da vacina ter sido aberto para uso. Por esse motivo, os conservantes são necessários em frascos que contêm mais de uma dose.
Estabilizadores
Estabilizadores, como açúcares (lactose, sacarose), aminoácidos (glicina) ou proteínas (albumina humana recombinante, derivada de levedura). Mantêm a vacina funcional por longos períodos. Por isso, sem estabilizadores os antígenos das vacinas seriam degradados durante as mudanças de temperatura que ocorrem durante a produção, transporte e armazenamento.
Surfactantes
Os surfactantes mantêm todos os ingredientes da vacina misturados. Eles evitam a sedimentação e aglomeração de elementos que estão na forma líquida da vacina. Eles também são frequentemente usados em alimentos como sorvete.
Resíduos
Os resíduos são pequenas quantidades de várias substâncias usadas durante a fabricação ou produção de vacinas que não são componentes ativos na vacina completa. As substâncias variam dependendo do processo de fabricação usado e podem incluir proteínas do ovo, fermento ou antibióticos. Contudo, os traços residuais dessas substâncias que podem estar presentes em uma vacina são em quantidades tão pequenas que precisam ser medidos como partes por milhão ou partes por bilhão.
Diluente
Líquido usado para diluir uma vacina para a concentração correta imediatamente antes do uso. O diluente mais comumente usado é a água estéril.
Adjuvante
Os adjuvantes ajudam a melhora a resposta imune à vacina. São especialmente importantes para pacientes idosos e imunocomprometidos que podem ter uma resposta mais fraca à vacinação. Ainda mais, os adjuvantes também ajudam a aumentar a resposta imunológica às vacinas que usam apenas alguns antígenos. No entanto, não são necessários em vacinas de vírus inteiros enfraquecidos ou mortos que induzem uma resposta imunológica mais completa. A saber, os sais de alumínio são mais comumente usados, por estimular a absorção de antígenos pelas células do sistema imunológico e por retardar a liberação de um antígeno no local da injeção para promover uma produção mais sustentada de anticorpos. As vacinas contendo adjuvantes de alumínio são usadas há mais tempo e têm um histórico constante de segurança.
Como as vacinas são validadas?
De fato, a maioria das vacinas está em uso há décadas, com milhões de pessoas recebendo-as com segurança todos os anos. Como acontece com todos os medicamentos, toda vacina deve passar por testes extensivos e rigorosos para garantir que seja segura antes de poder ser introduzida no programa de vacinação de um país.
Cada vacina em desenvolvimento deve primeiro passar por triagens e avaliações para determinar qual antígeno deve ser usado para estimular uma resposta imune. De tal forma que esta fase pré-clínica é realizada sem testes em humanos (in vitro). Uma vacina experimental é testada pela primeira vez em animais para avaliar sua segurança e potencial para prevenir doenças.
Portanto, se a vacina desencadear uma resposta imune, ela será testada em ensaios clínicos em humanos em três fases.
Fase 1
Primeiramente a vacina é administrada a um pequeno número de voluntários para avaliar sua segurança, confirmar se gera uma resposta imunológica e determinar a dosagem certa. Geralmente nesta fase, as vacinas são testadas em voluntários adultos jovens e saudáveis.
Fase 2
A vacina é então administrada a várias centenas de voluntários para avaliar ainda mais a sua segurança e capacidade de gerar uma resposta imunitária. Os participantes dessa fase têm as mesmas características (como idade, sexo) das pessoas para as quais a vacina se destina. Além de pessoas do grupo de risco para a doença a ser prevenida. Normalmente, há vários ensaios nesta fase para avaliar várias faixas etárias e diferentes formulações da vacina. Além disso, um grupo que recebe o placebo é geralmente incluído na fase como um grupo comparador para determinar se as mudanças no grupo vacinado são atribuídas à vacina ou aconteceram por acaso.
Fase 3
A vacina é dada a seguir a milhares de voluntários para determinar se a vacina é eficaz contra a doença que se destina a proteger e para estudo de sua segurança em um grupo muito maior de pessoas. Desse modo, na maioria das vezes, os ensaios de fase três são realizados em vários países para garantir que os resultados do desempenho da vacina se apliquem a muitas populações diferentes.
Nessa fase os estudos clínicos são randomizados e com o método duplo-cego. Profissionais e voluntários não sabem quem está recebendo um placebo e quem está recebendo, de fato, o preparado da vacina. A metodologia usada é importante para comprovar a eficiência da substância em teste. Esse é o estágio no qual ocorre a aprovação da vacina, mas há continuidade de estudos sobre possíveis efeitos adversos.
Aprovação para a ampla utilização
Quando os resultados de todos esses ensaios clínicos estão disponíveis, uma série de etapas é necessária ainda. Revisões de eficácia e segurança para aprovações de políticas regulatórias e de saúde pública. Os institutos regulatórios de cada país analisam de perto os dados do estudo e decidem se autorizam o uso da vacina. Uma vacina deve ser comprovada como segura e eficaz em uma ampla população antes de ser aprovada e introduzida em um programa nacional de imunização.
O monitoramento posterior ocorre de forma contínua após a introdução de uma vacina. Existem sistemas para monitorar a segurança e eficácia de todas as vacinas. Isso permite os pesquisadores acompanharem seu impacto e a segurança, mesmo quando ela é usada em um grande número de pessoas. E por um longo período de tempo. Esses dados são usados para ajustar as políticas de uso da vacina para otimizar seu impacto e permitem que a vacina seja rastreada com segurança ao longo de seu uso.
Assim, uma vacina deve ser monitorada continuamente para garantir que continue a ser segura e eficaz.
Conheça as linhas:
Adaptação do texto:
https://www.who.int/news-room/feature-stories/detail/how-are-vaccines-developed
Referências:
- https://whateveryoneneedstoknow.com/view/10.1093/wentk/9780190277901.001.0001/isbn-9780190277901-book-part-1?gclid=Cj0KCQiA7NKBBhDBARIsAHbXCB6zy9V4JdwLKrifYlVPAwgvgevo1q9t6H5j5TnE8fC7sIJHjuAMl9gaApPJEALw_wcB#isbn-9780190277901-book-part-1-sec-18
- https://www.unifor.br/-/saiba-como-e-feita-uma-vacina-e-como-ela-funciona-no-organismo
- https://tecnoblog.net/373461/como-sao-feitas-as-vacinas/
- https://helix.northwestern.edu/article/%E2%80%98blueprint%E2%80%99-vaccines-next-generation-fight-against-emerging-infections